Sunday, June 14, 2009

Feliz

Outro dia o Domenico me perguntou pq eu tava com cara de c*. E eu respondi que magina, tava tudo ótimo. Que só tava um pouco esgotada de trabalhar tanto, e continuava com um p. pepino no trabalho. E com um rolo grande de familia. E uma tendinite me matando. E mais umas coisas que eu não queria falar.

Tentei fazer a Polyana alto astral e terminei a reclamona de sempre.

Mas falei que não era nada grave, que eu não podia reclamar, que sabia que devia estar feliz... e todo o blablabla bonito e consciente que a gente aprendeu quando pequena, ou quando leu o maldito livro da Polyana.

Aí hoje, ele me mandou esse texto que fez depois do nosso papo. E me fez pensar em um monte de coisas.

Me lembrou que o Russell Davies  fala que “managing expectations is a secret for a happy life”.

Me fez pensar sobre as malditas expectativas e os parâmetros de “felicidade”

E sobre a culpa que a gente (ou eu) sente quando não está feliz, mesmo sabendo que devia estar. 

Mas o mais importante, me fez rir e mudou minha cara de c*.


 FELIZ

Meu avô não foi um homem de grandes feitos. Apesar de que ele aguentou o gênio terrível da minha avó por quase 6 décadas, o que não foi fácil. Mas ele não teve uma vida das mais glamurosas. Pelo contrário. Nunca ganhou dinheiro, nunca descobriu seu talento e nunca foi dono de seu próprio negócio - a não ser depois que se aposentou e resolveu ter uma barraca de meias na feira. Ele era bondoso, honestíssimo e vivia resmungando de tudo, mas de uma maneira engraçada, como se ele fosse um crítico de todos os assuntos do planeta.

Um dia, assistindo a um sorteio da Mega Sena pela TV, ele soltou tranquilamente "Eu ganhei". Frio na barriga da família toda. Abraços. Telefonemas. Gritos de alegria. Pela primeira vez, em 59 anos de casamento, minha avó dirigiu palavras doces a ele. E nós achamos até fofo o fato de termos ganhado pares de meias em todos os nossos aniversários, dias das crianças e natais dos últimos 16 anos.

O problema é que ele tinha perdido o bilhete premiado. Filhos, netos, sobrinhos e primos que nunca tiraram o próprio prato da mesa após as refeições, passaram a madrugada revirando a casa de ponta cabeça para encontrar o papelzinho que mudaria o destino da família. E encontraram.

Meu avô realmente tinha marcado as seis dezenas sorteadas. Só que ele marcou os outros 54 números também. Ao contarmos que não era um bilhete válido por estar inteiro assinalado, a resposta foi "Mas que eu ganhei, eu ganhei." Foi aí que descobrimos que ele estava com Alzheimer's.

Todos ficaram tristes. Uns por ele, outros por suas Ferraris que aceleraram de volta ao mundo dos sonhos em menos de 3 segundos. Minha avó? "Eu disse que esse inútil nunca fez nada de bom na vida!" E daí para baixo.

E foi esse o fim do meu avô: morreu com a certeza de que era milionário e, de quebra, deixou sua mulher 
emputecida para o resto da eternidade.

Se isso não é final feliz, então o que é?

5 comments:

Thais said...

Eu e o Nate passamos metade da noite conversando sobre esse assunto hoje, e no fim eu contei a historia do avo do Domenico pra ele, que super se emocionou mas tb deu risada.

Demais, Domenico! Pode voltar pro TWM mais vezes (leia-se todo dia ate nosso animo voltar ao normal -- nao e so a Fe que anda cansada da vida)

:)

Rafael Paschoal said...

Muito boa a história do avô, na mesma proporção que causa uma certa tristeza. Perder a sanidade é algo devastador, para quem está ao redor... pelo menos ele sonhou com algo.

E quanto a cara de cu, relaxa! Todo mundo tem direito a ser bunda, de vez em quando!

abração!

R.
http://suburbanismos.blogger.com.br

Friskin said...

ai tadinho do vovô rs mas a história é muito engraçada...

bjocas
friskin.com.br

Ferr said...

valeu pela compreensão rafael, hehe.

Ferr said...

valeu pela compreensão rafael, hehe.